Um novo estudo que monitorou a atividade cerebral de crianças sugere que a ansiedade social seja relacionada à preocupação de errar. A pesquisa, publicada na revista da American Academy of Child & Adolescent Psychiatry (Academia Americana de Psiquiatria da Criança e do Adolescente), fornece um maior entendimento nos mecanismos neurológicos que atuam sob os sintomas da ansiedade social.
“Estou interessado em entender melhor a ansiedade social e como ela se desenvolve por vários motivos,” diz o autor George Buzzell, da Universidade de Maryland.
“Antes de qualquer coisa, a ansiedade social é um distúrbio debilitante que afeta muitos indivíduos, e precisamos entender melhor esse distúrbio se quisermos ajudar essas pessoas. Eu mesmo lutei contra a ansiedade social por quase duas décadas, e sinto que tive grande sucesso em superá-la; quero entender melhor o distúrbio para que possa ajudar outras pessoas a encontrarem a ajuda que preciso e superá-la também.”
O estudo examinou 107 crianças de 12 anos que deram sinais de um temperamento do início da infância conhecido como inibição comportamental quando eram mais novas. Os pesquisadores usaram um eletroencefalograma para monitorar a atividade elétrica cerebral das crianças enquanto elas faziam um teste psicológico que mede a habilidade do participante de focar em informações enquanto bloqueiam certas distrações.
As crianças completaram o teste, conhecido como tarefa do desistente (flanker test), duas vezes. Uma vez depois de serem informados de que estavam sendo observados, e outra depois de serem informados de que ficariam sozinhos.
Observando os tempos de resposta após errar e um padrão particular de atividade cerebral conhecido como “Negatividade Relacionada ao Erro”, Buzzell e seus colegas puderam observar que a ansiedade social e a inibição comportamental são ligadas a uma hipersensibilidade ao erro em situações onde se é observado.
“Um dos mecanismos através dos quais a ansiedade social se manifesta é o foco excessivo na autoimagem e nos erros perceptíveis em situações sociais. Para indivíduos com ansiedade social, esse foco excessivo nos erros perceptíveis distrai/detrai o indivíduo da interação social em andamento,” diz Buzzell.
Mas o estudo tem algumas limitações.
“Primeiro que, embora sejamos capazes de avaliar o temperamento de uma criança no início da vida antes do desenvolvimento de sintomas da ansiedade social na adolescência, outras medidas neurocomportamentais foram avaliadas quando os adolescentes já mostravam sinais de ansiedade social,” explica Buzzell. “Uma abordagem melhor seria de também avaliar as medidas neurocomportamentais antes do surgimento de sintomas da ansiedade social para que realmente identificássemos um mecanismo que dá origem a ela.
“A segunda maior limitação é a de que nossa medida de “preocupação com o erro” é baseada somente em tempos de reação, e é uma medida bem crua; atualmente, estamos empregando análises mais sofisticadas para capturar de forma melhor toda a série de processos neurais que antecedem e resultam dos erros; esperamos publicar os resultados dessas novas análises em breve.
“Embora eu seja o que está falando agora, esse foi realmente um esforço em conjunto, envolvendo muitas pessoas brilhantes (que estão listadas como autores no manuscrito). Fico muito grato a todos os meus coautores pelos seus trabalhos nesse projeto com o passar dos anos e suas sugestões, especialmente o investigador principal deste projeto, Dr. Nathan A. Fox,” Buzzell adiciona.
“Além disso, todos nós estamos extremamente gratos a todas as famílias que participaram nessa pesquisa, já que ela não teria sido possível sem a participação e comprometimento delas. Também estamos muito gratos ao financiamento generoso que o projeto recebeu com o passar dos anos.
O estudo, “Um Mecanismo Neurocomportamental Ligando Temperamento Comportamental Inibido e Ansiedade Social no Fim da Adolescência,” (tradução livre) tem como autores George A. Buzzell, Sonya V. Troller-Renfree, Tyson V. Barker, Lindsay C. Bowman, Andrea Chronis-Tuscano, Heather A. Henderson, Jerome Kagan, Daniel S. Pine e Nathan A. Fox.