É possível que o radicalismo venha de fora?

Nesta semana, o The New York Times publicou uma notícia informando que o Facebook fará uma atualização com uma ferramenta que permitirá que os usuários descubram se foram vítimas de propaganda política falsa criada e compartilhada por agentes russos com o objetivo de desestabilizar e radicalizar os discursos durante as eleições presidenciais dos EUA.

Segundo a publicação, 29 milhões de americanos viram conteúdo falso publicado por russos no Facebook diretamente na timeline, 126 milhões de pessoas viram conteúdo compartilhado e 150 milhões de pessoas foram expostas às informações quando o Instagram é considerado. Isso significa que quase metade da população total americana visualizou de alguma forma notícias falsas criadas por uma nação do outro lado do mundo.

Uma das notícias falsas da eleição americana. Yoko Ono dizendo, “Eu tive um caso com Hillary Clinton nos anos 70.” Fonte: Heavy.com

O termo fake news entrou em cena desde então, com a ascensão de milhares de sites ao redor do mundo com a única função de criar notícias falsas, inflamatórias ou exageradas, com o objetivo de enganar, confundir ou radicalizar as pessoas comuns. Aliada a essa força do mal, indivíduos no WhatsApp criam absurdos e desinformações para compartilhar com familiares e amigos, um lugar onde as pessoas se tornam muito mais suscetíveis ao problema.

WhatsApp é mais alarmante no Brasil por contar com uma socialização que envolve pessoas acostumadas e desacostumadas a usar a internet. Dentro de grupos familiares, uma história bem escrita compartilhada com negritos e emojis por um sobrinho apoiador do Bolsonaro ganha mais confiança e simpatia dos tios e avós pelo fato de o sobrinho estar compartilhando, e dentro daquele ambiente familiar. Com incentivo de levar a mensagem adiante como se fosse uma verdade que precisa ser exposta ao mundo, à modelo das antigas correntes de e-mail e Orkut, esse modelo de desinformação tem causado grandes transtornos, como mentiras contadas sobre Jean Wyllys, o programa de televisão que será encabeçado por Pabllo Vittar, a exposição Queermuseu de Porto Alegre e, para não dizer que o problema só está em opiniões de direita, os “fatos” inflamatórios sobre figuras queridas dos conservadores brasileiros, Alexandre Frota e Jair Bolsonaro.

Uma das obras causadoras de polêmica da exposição Queermuseu. Crianças podem ser gays? A resposta óbvia é que sim, mas alguns setores não aceitaram. Fonte: JornaLivre

O que nos leva ao título: será que as origens de tudo isso são mesmo os próprios brasileiros? Segundo artigo com várias estatísticas publicadas pelo El País Brasil, nossa nação já não é tão conservadora assim. Mais de 70% dos brasileiros hoje aprovam não só o casamento entre pessoas do mesmo sexo como também a adoção. A voz e a luta contra o racismo e desigualdade entre os sexos também ganhou e continua ganhando muita força, tanto entre os jovens quanto entre os mais velhos, que têm mais dificuldade em aceitar grandes mudanças na sociedade. As regras estão mudando sobre o que é ou não aceitável nas conversas cotidianas. O brasileiro está se aproximando rapidamente do que é o ocidental, especialmente com o advento da internet.

Não é novidade alguma que exista um setor conservador na sociedade, em qualquer sociedade afinal, especialmente na classe média. Ultimamente se tornaram mais audíveis e escandalosos com os casos que todos já conhecem, mas não aumentavam em volume até que pessoas jovens começaram a se enxergar em discursos radicalizados e preconceituosos, com o viés de que isso os tornaria pessoas mais respeitáveis e “de bem.” Páginas como o “Orgulho de Ser Hétero” dão cabo a isso e insistem aos influenciados que ser preconceituoso com mulheres e homossexuais fará deles homens mais masculinos e completos. Qualquer análise maior sobre as postagens lá dispostas mostra o contrário. Dos comportamentos imaturos dos seguidores ao conjunto raso de ideias que cultivam ao preconceito injustificado contra o gênero com o qual se relacionam.

O discurso típico do masculino exagerado, onde as obrigações e direitos de cada um no relacionamento são aparentemente diferentes. Fonte: Orgulho de ser Hetero / Facebook

Mas e se tudo isso nem foi gerado aqui? Até o ano de 2014, era raro ver organizações e grupos que difundiam o preconceito e a segregação na rede. As pessoas pareciam todas estar conversando sobre assuntos que mereciam ser discutidos, e o nível dos debates e das questões estava crescendo. Com essa onda, muito melhorou no funcionamento da sociedade e no respeito em geral, tanto falando de religião como de orientações ou gênero. O brasileiro se tornou mais informado na política e nos seus direitos. Agora a coisa parece estar se desenrolando.

Facebook se comprometeu a contar para os americanos o que eles viram de falso, fabricado pelos russos. Mas o Facebook também sabe que as fake news e as radicalizações estão acontecendo por aqui. Só que ninguém fez a pergunta, ninguém suspeitou de nada, e eles não têm obrigação de contar. Quem criou? Por quê? Será que não existem interesses e mãos ocultas por trás de formadores inflamados de opinião, como o MBL, onde um negro defende o fim de direitos de seus pares? O que garante que os próprios EUA, a Rússia ou vizinhos interessados em determinadas riquezas brasileiras não possam ter interferido nas nossas opiniões políticas, conduções no Congresso e no Senado, nas eleições? Quem garante que isso não possa acontecer no ano que vem? Quais precauções o Facebook de fato tomaria nesse caso?

O ápice da esquizofrenia ideológica pode simplesmente ter sido importado. Casos e falas parecidos foram vistos nas eleições dos EUA. Fonte: MBL

É hora de começarmos a nos questionar: fomos nós que criamos nossos radicais conservadores, que hoje gritam e esperneiam tentando fazer o brasileiro de verdade acreditar que eles são a maioria ou o retorno da sanidade? Ou será que é uma massa influenciável da nossa população sendo manipulada em prol de um objetivo oculto?

De toda forma, se você estiver aflito(a) (como eu também estava), fique um pouco mais tranquilo(a). A porcentagem de brasileiros que se deixam levar por essas ideologias extremistas e segregacionistas é relativamente pequena, a maior parte de nós continua sã. Que façamos nossos votos refletirem isso em 2018.

A polarização do Brasil está te assustando? Tenho uma sugestão.

Para ambos os lados das correntes de pensamento em nosso país e no mundo, há uma sensação de insegurança. Enquanto aqueles ditos “esquerdistas” se preocupam com o bem-estar de minorias historicamente amordaçadas, os “conservadores” se preocupam com a manutenção da sociedade dita padrão. Os argumentos e as acusações criaram um sentimento de cabo-de-guerra, onde todos acusam os outros com um “Vocês!” Em pouco tempo, pelos acontecimentos e mudanças de foco, os dois grupos foram se fragmentando entre outros mais específicos que também brigam entre si.

De um lado, existe a feminista que não aceita os LGBT como aliados, afinal transexuais invadem banheiros femininos e gays só pensam em si mesmos. Do outro, há liberais amantes do sistema capitalista que veem os evangélicos como uma ameaça tão grande ou pior do que a dos muçulmanos. Em uma página no Facebook critica-se a propaganda da Dove como uma das maiores ofensas já feitas a negros em um comercial em muito tempo. Na página ao lado, vários dizem que “a maldade está nos olhos de quem vê”. A respeito do fato que se sucedeu no MAM de São Paulo, basta inverter: os ditos conservadores veem aquilo como uma das maiores afrontas da arte moderna de todos os tempos, os de esquerda veem como uma manifestação da liberdade individual e artística.

A questão é que nem todos. Nem todas as pessoas de esquerda levaram como pouca coisa a exibição artística, e condenam a mãe da menina e o artista de permitir a entrada livre. Nem todos os conservadores estão despreocupados com ofensas raciais. Nem todos os evangélicos acham que o país inteiro deve converter-se. Nem todos os homossexuais ignoram a dificuldade que as mulheres passam. A questão é que todos estes movimentos, grupos, pensamentos, têm esquerda e direita dentro deles, têm pensamentos individuais, têm pontos de vista e senso crítico inseridas neles, se confluem em locais de trabalho, em rodas de amigos e em encontros familiares, e é assim, com contato, convivência e entendimento, que opiniões mais fortes e bem formadas se criam.

Há muitos fãs da personalidade Nando Moura no YouTube hoje em dia. Ele é visto por muitos como um fascista da direita, por outros como um líder, e por mais alguns como um simples idiota. O problema do Nando Moura, na minha opinião, não é o posicionamento que ele toma em suas opiniões e na forma de ver o Brasil, mas no fato dele convocar seus seguidores ao boicote e a ignorar todos os outros pontos de vista, usando da mentira e do exagero para isso. Ele instiga pessoas que precisavam absorver mais conhecimentos – de forma plural e isenta – a não assistir, não consumir, não entender coisas com as quais ele não concorda ou não entende. Em um vídeo, ele convida seus seguidores – muitos deles jovens – a nunca mais assistir a Globo por ela fazer lavagem cerebral. Em outro, relaciona a ideia de meninas poderem brincar de superheróis e meninos de boneca a um “pênis de brinquedo” ser o próximo passo, dando a entender que mais liberdade para crianças brincarem estaria relacionado à pedofilia. Esse é o ponto perigoso do fascismo.

O ponto onde quero chegar é que você pode encontrar amigos e conhecimento em qualquer lugar que for, com qualquer brasileiro que houver.

Não considere os pobres do Nordeste como “vocês que votaram na Dilma”. Se tiver oportunidade, conheça alguém de lá que passou por dificuldades e pergunte por que pensa assim. Não precisa concordar, mas entendendo você vai poder formar uma opinião mais completa sobre o motivo pelo qual discorda, além de criar um laço com aquele grupo de pessoas.

Admita, o Nordeste tem estilo.

Não considere os LGBT “vocês degenerados”, procure trocar ideia com o colega ou a colega de trabalho que são gays e pergunte como foi sair do armário pra família, e por que acham tão importante fazer manifestações chamativas. Podem não querer ir na próxima Parada, mas provavelmente conquistarão um amigo e verão que não faz parte dos “planos” do grupo instaurar a pedofilia. Aliás, aqui devo frisar, lembremos que a pedofilia é um problema em todas as classes sociais e sexos da nossa sociedade. Todos devemos estar unidos contra ela, não jogando a culpa em determinados grupos.

Não considere todos os evangélicos “vocês pregadores incansáveis que querem destruir terreiros”. Existem sim pessoas assim, mas existem evangélicos que desafiam suas próprias congregações apoiando filhos LGBT ou criando alianças com terreiros e igrejas católicas em busca de prover mais para pobres, viciados e serem solidários. Existem missões benéficas que não agridem ninguém, e existem pastores que gastam até o último centavo para ajudar seus fiéis.

Não considerem todos os negros “vocês sanguessugas do governo”. Procure dados sobre o assunto e a demografia do país, a história das famílias, procure seus amigos negros e pergunte se podem te contar um caso de racismo e como eles se sentiram. Tenho certeza que seu pensamento, mesmo que um pouquinho, pode acabar sendo mudado com o toque da percepção.

Não vejam todos os conservadores como “vocês fascistas da censura”. Existem pessoas que realmente se preocupam com jovens pensando em sexo muito cedo, ou deixando as formalidades de lado, ou deixando de pensar em formar uma família. Entenda que existem conservadores LGBTs, existem conservadores pobres, existem conservadores negros e existem evangélicos liberais. Entenda que até você deve ter algo de conservador aqui ou lá, seja pela criação ou pelos valores próprios que criou com o passar da vida.

Todos nós temos um pouco da esquerda, da direita, do conservadorismo, do liberalismo, do bem-estar social e do individualismo em nós. Em cada um, esses sentimentos são diferentes, e em cada um se manifestam de forma diferente. Nada desses pontos de vista é partidário, é somente nosso. O Brasil não são “vocês”, “vocês”, “vocês”, e sim “nós”, “nós, “nós”. Em cada grupo que você acredita odiar, existe alguém com um inimigo em comum seu.

Minha sugestão, minha dica para dias mais calmos, menos pessimismo e maior abertura para dialogar com as pessoas ao seu redor e se sentir menos em perigo é que você procure as pessoas e atitudes que realmente não adicionam nada a ninguém e se afaste. Se você percebe que a pessoa mente para manipular outros, pesquise aquilo que parece loucura demais (“Gays comem criancinhas!!”) antes de acreditar e levar adiante. Há muitos agentes do mal por todos os lados, do feminismo ao califado.

Se quer chamar alguém para conversar e te entender quando percebe que a pessoa não conviveu com algo que te define, não acuse-a de ser algo ou fazer parte de algum grupo. Apenas entenda que em determinado ponto vocês não concordam. E se for para continuarem não concordando, apenas tente entender por quê. E não tente impedi-la de nada, apenas deixe-a seguir a vida.

No calor do momento, quando queremos que nosso time vença mais que tudo, repetimos discursos sem realmente defendê-los porque entendemos que há força em números. Condenamos grupos inteiros de brasileiros porque alguém nos disse que eles querem instaurar o caos. Nos fechamos em grupos isolados porque não queremos ouvir outros pontos de vista. É isso que nos dá aflição e faz o diferente parecer tão ameaçador e violento.

Sei que ainda cometerei muitas vezes o erro de enxergar um grupo e vê-lo com maus olhos ou achar que estão contra mim, mas é um exercício que estou fazendo de tentar evitar essa forma de ver as coisas e pensar em como alcançar pessoas que não concordam com minha forma de ser ou minhas opiniões e entendê-las, para quem sabe estarmos juntas no futuro. Precisamos estar unidos se vamos fazer boas escolhas no ano que vem. Se não…

Não sei “vocês”, mas é como penso. Deixem suas opiniões nos comentários!

Em cima do muro

Este post é uma música transformada em texto.

Em algum lugar no seu guardarroupa, eu posso apostar que existe uma camisa com a silhueta do Che Guevara. Ele era um revolucionário, é, usava um chapéu bacana, mas por trás do design, acho que você vai acabar percebendo que não é tão simples. Che era meio homofóbico. Um pouquinho homofóbico. É, o Che era meio homofóbico.

Esse texto existe em defesa do muro, uma ode à ambivalência. Quanto mais você sabe, mais complicado é decidir de que lado ficar. Não importa muito se você não consegue descobrir onde a grama é mais verde, é capaz que em nenhum lugar. E, de toda forma, é mais fácil ver a diferença quando você fica em cima do muro.

Em algum lugar na sua casa, eu posso apostar que existe uma foto daquele hippy sorridente do Tibete – o Dalai Lama. Ele é um cara engraçado, amável, claro, cheio de citações e clipes, mas não vamos esquecer que lá no Tibete, aqueles monges interessantes costumavam ferrar com os pobres. Pois é. E a linha budista sobre nossas vidas futuras ilustram uma forma perfeita de impedir os fracos de subir enquanto ele diz que os pobres viverão de novo. Mas agora ele é rico, para ele é fácil falar.

Dividimos o mundo entre terroristas e heróis, normais e os esquisitos, os bons e pedófilos, em coisas que dão câncer, coisas que curam câncer e coisas que não causam câncer, mas que provavelmente vão causar no futuro. Dividimos o mundo para pararmos de sentir medo, entre o certo e o errado, entre o preto e o branco, entre homens de verdade e bichinhas, status quo e miséria. Queremos o mundo binário, bem binário. Mas não é tão simples.

Seu cachorro tem uma emissão de CO² maior do que um carro 4×4. Seu filho também. Talvez você deva trocá-lo por um carro elétrico, que tal?

Dividimos o mundo entre liberais e aficionados em armas, entre ateus e fanáticos, sóbrios e drogados, químico e natural, fictício e fatual, ciência e o supernatural, mas é claro que nada é tão preto e branco. Dividimos o mundo para não sentir medo.

Quanto mais você sabe, mais difícil fica decidir o que é certo, e no final não importa se dá para ver qual grama é mais verde. Provavelmente não é nenhuma.

Não é tão simples.

Essa frustração… Se você ler as notícias dos tabloides, se cometer um erro e acabar lendo algo no topo ou no meio da capa de um jornal, se ler os tabloides, ou as páginas críticas, ou os comentários de qualquer site, será fácil ficar convencido de que a raça humana está em uma missão de dividir as coisas em duas colunas muito bem separadas.
.

É um preto no branco muito invasivo, tudo tem que ser do bem ou do mal, saudável ou letal, natural ou químico, sabe? As tropas no Iraque são boas, pedófilos são do mal, ignorando o fato de que alguns soldados gostam de crianças e de que alguns pedófilos têm armas, e… Sabe, se comer essa fruta ou tomar esse suco, você será milagrosamente saudável e viverá para sempre! Mas se ingerir essa toxina ou tomar essa vacina, vai ter câncer e morrerá! Ou será autista e não gostará de receber abraços.
.

E então, se tudo orgânico e natural é bom, ignorando o fato de que substâncias orgânicas naturais incluem ácido, cocô e crocodilos, e se tudo químico é do mal, ignorando o fato de que  tudo é químico… TUDO É QUÍMICO!
.

O dia em descobrirem que tapetes de ioga são carcinogênicos vai ser o dia mais feliz da minha vida. Enfim, ao invés de ficar me irritando com isso, me senti inspirado por Bono e a forma que ele usou o Pop para atacar a pobreza e, bem… Foi um sucesso total. Imaginei que pudesse ter uma música num estilo Pop explosivo também, e sobre esse muro […] e ela é chamada “The Fence.”