Porque as multas acumuladas devem ser pagas mesmo que você não seja o responsável por elas, ficam atreladas ao carro, e após pagar as multas você ainda teria que entrar em contato com o governo sobre uma transferência de titularidade para poder usar, caso contrário, sendo pego dirigindo-o, você seria preso e obrigado a pagar as multas.
Eu não sei dessa informação, mas acho improvável que o governo vá permitir que você transfira os documentos do carro para o seu nome. Mas como isso é um problema que tem ocorrido lá, acho que é o que deveriam fazer. Talvez facilitar essa transferência.
Acho que uma ótima solução para esses carros seriam leilões, como é feito em outros países, inclusive no Brasil.
Resposta resumida: você não pode pegar um carro abandonado em Dubai e sair dirigindo pelo mesmo motivo que você não pode fazer isso em nenhum lugar, há leis e titularidades para carros.
Críticos chamam de “vergonhosa” a manobra sem precedentes de retirada de direitos civis.
Bermudas se tornou o primeiro país no mundo a revogar uma lei que permite que pessoas do mesmo sexo se casem.
O governador da ilha, John Ranking, aprovou uma lei na quarta que reverte uma decisão da Suprema Corte do ano passado que aurotizava o casamento homoafetivo.
Críticos consideram a manobra do território britânico uma retirada sem precedentes de direitos civis.
O ministro de assuntos domésticos, Walton Brown, disse que a legislação assinada pelo Sr. Ranking foi feita para balancear a oposição ao casamento homoafetivo na ilha, considerada conservadora, com as decisões judiciais europeias que garantem o reconhecimento e proteção de casais do mesmo sexo no território.
O Senado e Congresso de Bermudas passaram a lei com ampla vantagem em dezembro, e a maior parte dos eleitores votaram contra o casamento homoafetivo em um referendo. A ilha agora só tem uma lei que permite uniões domésticas para casais gays.
“Esse ato tem a intenção de criar um equilíbrio justo entre dois grupos irreconciliáveis em Bermudas, ao redefinir que o casamento deve ser entre um homem e uma mulher ao mesmo tempo que reconhece e protege os direitos de casais do mesmo sexo,” diz o Sr. Brown.
Grupos de direitos humanos LGBT+ dizem que uniões domésticas configuram um status de segunda classe e que é sem precedentes uma jurisdição tirar o direito legal ao casamento depois dele ter sido garantido.
“O governador Rankin e o parlamento de Bermudas vergonhosamente tornaram a ilha o primeiro território nacional no mundo a revogar a igualdade no casamento,” disse Ty Cobb, diretor da Campanha Global de Direitos Humanos.
A manobra causou o convite a boicotes por ativistas dos direitos LGBT+ contra o território, usando a hashtag #BoycottBermuda.
Casais registrados em uniões domésticas agora terão direitos “equivalentes” aos casais heterossexuais casados, incluindo o direito de tomar decisões médicas pelo parceiro, segundo declaração emitida pelo governo do Sr. Brown.
Cerca de seis casamentos do mesmo sexo de Bermudas, que ocorreram entre a decisão da Suprema Corte em maio de 2017 e a revogação, continuarão a ser reconhecidos sob a nova lei.
Bermudas, um país predominantemente cristão, tem visto uma mudança significativa nos últimos anos em direção às vertentes evangélicas do cristianismo.
Em um debate na Câmara dos Comuns do Reino Unido mês passo, Chris Bryant, do partido trabalhista, chamou a lei de “um projeto de lei desprazeroso e muito cínico.”
“Me sinto muito desapontado,” disse Joe Gibbons, um homossexual bermudense casado. “Isso não é igualdade, e o governo britânico simplesmente disse, ‘Essa não é nossa luta.'”
Apesar de insinuações de que o Secretário de Assuntos Estrangeiros do Reino Unido teria influência na revogação da lei, Boris Johnson parece não ter envolvimento.
Sua permissão só seria necessária se o Sr. Rankin decidisse “reter consentimento” da assinatura da lei. Mas o governador confirmou que havia aprovado a lei depois de “considerações cuidadosas de acordo com minhas responsabilidades sob a Constituição.”
No final do semestre passado, no saguão branco e reluzente do Madison Square Garden, atendentes uniformizados foram designados a checkpoints de segurança para tornar milhares de smartphones inúteis. Chris Rock estava fazendo seu 10º show em uma turnê internacional de 12 cidades, e a cada parada, cada convidado era obrigado a passar pela entrada, confirmar que seu celular estava em vibracall ou silencioso, e então entregá-lo a um segurança que o colocava em uma bolsa cinza inviolável de neopreno — fazendo com que o aparelho ficasse totalmente inacessível. O homem de terno à minha frente na fila, claramente vindo direto do trabalho, tinha dois celulares, cada um dos quais precisou de sua própria bolsinha. O garoto atrás de mim lamentou que não poderia transmitir sua noite no Snapchat. A amiga que eu tinha vindo encontrar não estava em lugar nenhum, e depois de colocar meu celular na bolsa, não podia mandar mensagem para perguntar onde ela estava. Finalmente a encontrei perto da escada rolante. “Isso foi estranhamente assustador,” ela disse, rindo.
O show começaria em 45 minutos. Ainda haviam assentos para encontrar, visitas ao banheiro para fazer, garrafas de água para comprar. E por todo o saguão, as mãos por todo lado estavam inquietas. Era como se todos os 5.500 de nós tivéssemos sido reduzidos, pela simples e repentina desativação dos nossos celulares, em uma sala cheia de viciados sem sua droga.
Passávamos manteiga de cacau sem necessidade, rasgávamos nossos lencinhos, estalávamos os dedos. Os realmente desesperados poderiam se aliviar em uma “zona do telefone” com divisória do lado de fora do auditório, onde um funcionário destravaria a bolsa enquanto você ficasse no local do tamanho de um banheiro. “Preciso avisar à minha esposa que não tem sinal aqui,” disse um homem a seu amigo antes de entrar. Uma mulher passou rindo: “É como uma área de fumantes! Olha para todos esses viciados.” Enquanto isso, os que resistiam à tentação de usar seus aparelhos 5 minutos após terem guardado, reclamavam que não sabiam a hora.
Yondr, uma empresa de São Francisco com 17 empregados e sem investimento de capital de risco, foi responsável pela restrição aos celulares. Suas pequenas bolsas de tecido, que fecham com um cadeado patenteado que só pode ser aberto com um dispositivo da própria Yondr, têm sido usadas em shows de Alicia Keys, Childish Gambino e Guns N’ Roses, e em apresentações de comediantes como Rock, Dave Chappelle e Ali Wong, que não querem seus materiais vazados no YouTube ou seus públicos distraídos pelo Instagram. São usadas em hospitais e centros de reabilitação para reforçar a conformidade com as leis de privacidade na saúde, em centrais de atendimento para proteger informações sigilosas de clientes, em igrejas para focar a atenção no Todo-poderoso, e em cortes para evitar a intimidação de testemunhas. São usadas em mais de 600 escolas públicas dos EUA para forçar as crianças, enfim, a olhar para o quadro, e não para as telas. O engenhoso e descomplicado pedaço de pano só tem uma função: limitar o uso de smartphones onde as pessoas no comando não o quiserem, o que é ótimo se significa que artistas podem se expressar livremente ou que nós podemos ir ao médico sem medo de estar sendo gravados. Mas quando significa sufocar a expressão em lugares onde smartphones se tornam cada vez mais a nossa melhor chance de documentar abusos, crimes crônicos, e contar ao mundo o que vemos, o objeto toma uma dimensão diferente, e mais obscura. “O smartphone é muitas coisas,” diz Jay Stanley, analista de políticas sênior da União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU). “Uma forma de invasão da privacidade” — algo do qual precisamos nos proteger — “mas também um instrumento da liberdade de expressão.”
Conheci Graham Dugoni, fundador do Yondr, enquanto tomávamos alguns drinks em Williamsburg, Brooklyn. Ele estaria em Nova York por dois dias, encontrando-se com vendedores, clientes e parceiros de negócios para discutir como e por que deveriam usar o Yondr. “Todo mundo entende muito intuitivamente,” diz ele. “Nossa dependência dos celulares não é tão intelectual. É muito mais uma coisa corporal, então sempre esteve claro para mim que qualquer solução que houvesse para este problema deveria ser, por si mesma, física e tangível.”
Créditos: Veloxity.us
Este problema. É um que todos temos. Checar o Instagram 897 vezes por dia. Atualizar o Twitter e nem ler o que aparece. Sentir nossos telefones vibrando, imaginando que um estranho bacana veio nos oferecer o emprego dos sonhos, e depois nos odiarmos por sermos tão ingênuos. “Se você usa um dispositivo o tempo todo, ele vai afetar seu sistema nervoso e afetar seus padrões de pensamento e interação social. É somente uma checagem de impulsos que precisamos, eu acho,” diz Dugoni. Ele vê isso como uma época nova e desajeitada da humanidade onde podemos todos precisar de um pouco de ajuda para sermos nossa melhor versão. “Em nossa sociedade moderna atomizada e hiperconectada,” diz ele, “entrar em um espaço livre de celulares fornece a fundação da atenção continuada, diálogo e liberdade de expressão.”
Dugoni, que tem 31 anos e projeta a confiança física de um atleta de esportes radicais, tem um celular flip e afirma que não lê as notícias. “Eu sou muito seletivo quanto às coisas que recebo,” ele me conta. “Tenho um palpite de que a raça humana não esteja preparada para os estímulos visuais e auditivos atuais.” E desde a fundação do Yondr em 2014, ele considerou sua responsabilidade tentar nos trazer de volta a um tempo onde os celulares não eram tudo e em todo lugar. Ele quer que des-mudemos o mundo. “Vejo isso como um movimento,” diz ele. “De verdade.”
Dugoni cresceu em Portland, Oregon, estudou Ciência Política na Universidade Duke, e jogou futebol profissional na Noruega até que um ferimento o forçou a sair do campo direto para as finanças. Aos 24, ele se mudou para Atlanta, onde trabalhou infeliz para uma firma de investimento médio, e pela primeira vez na sua vida passava 8 horas por dia em frente a uma mesa. Posteriormente, Dugoni se mudou para a Bay Area e passou alguns meses trabalhando em várias startups, mas também odiava isso. Em 2012, em um festival de música em São Francisco, ele testemunhou dois estranhos filmando um bêbado dançando sem se importar; eles então postaram o vídeo no YouTube. Chocado, Dugoni começou a pensar sobre como poderia ter prevenido esses estranhos de fazer de um momento particular de alguém um espetáculo público. Uma ferramenta, talvez, para criar um espaço livre de telefones.
Ele passou o próximo ano e meio pesquisando opções, lendo sobre sociologia, fenomenologia e filosofia da tecnologia. E em 2014, depois de fazer experimentos com diferentes conceitos, incluindo um escaninho que guardaria celulares individualmente, ele se decidiu por uma bolsa que deixaria as pessoas guardarem seus celulares sem poder usá-los. Pelos próximos seis meses, ele passou noites avaliando materiais do Alibaba, o conglomerado de e-comércio, e falando no telefone com fornecedores chineses de tecidos e plásticos. Ele então ficava na mesa de sua cozinha até a alta madrugada criando pequenas luvas parecidas com mangas de capa de chuva e colocando celulares dentro delas. Depois de 10 protótipos, ele criou uma versão que trancava e destrancava facilmente. Ele tinha esse produto, e juntou US$ 100.000 (R$ 320.000) com ajuda da família, amigos, investidores-anjo e sua própria poupança para fabricar e comercializar a bolsa.
Desde o começo, produtores de shows entenderam o atrativo da bolsa, e canais de entretenimento se tornaram os primeiros clientes do Yondr. Isso mudou em 2016, quando Joseph Evers, administrador da corte do condado da Filadélfia, foi assistir uma apresentação de comédia no Cassino Valley Forge. Quando o segurança pediu por seu celular, colocou-o dentro de uma bolsa e a trancou, Evers percebeu que poderia solucionar um grande problema nos julgamentos. Naquele tempo, ele estava tendo dificuldades com intimidações a testemunhas: as pessoas estavam indo a audiências e postando fotos dos procedimentos nas redes sociais. “Já tentamos coletar os celulares, mas era um pesadelo,” ele me conta. “Levava tempo demais, e aconteciam muitos danos [aos aparelhos] pelos quais tínhamos que pagar.” O Yondr parecia ser a solução óbvia. Alguns dias depois, ele entrou em contato com a empresa, e um funcionário atravessou o país com algumas amostras. Evers os apresentou ao conselho administrativo das cortes da Filadélfia, e todos concordaram imediatamente e unanimemente. Agora, em um dia qualquer, cerca de 2.000 bolsas Yondr são usadas nas cortes da Filadélfia.
No início, segundo Evers, havia preocupação de que as pessoas iriam estranhar o processo, mas não foi o caso. “Não tem muito drama,” diz ele. “As pessoas entram na fila e fazem o que têmq ue fazer.” Evers diz que a corte tem visto uma “mudança dramática” no número de reclamções de postagens nas redes sociais identificando testemunhas e oficiais infiltrados. “A procuradoria e a polícia são os que mais saem ganhando,” diz ele. Renunciar ao telefone “é um pequeno preço a pagar pela segurança.”
Adam Schwartz não tem tanta certeza. Advogado dos funcionários na Electronic Frontier Foundation, uma ONG baseada em São Francisco devotada a defender as liberdades civis no mundo digital, Schwartz me escreveu por e-mail que a organização está “preocupada com tecnologias que incapacitam, mesmo que temporariamente, todas as coisas benéficas que uma pessoa pode fazer com o smartphone.” Quando liguei para pedir que ele elaborasse, ele citou um vídeo, feito por um estudante da Carolina do Sul em 2015, mostrando um oficial da polícia jogando o corpo contra uma estudante negra do sexo feminino por perturbar a paz da aula. Ele me lembrou da gravação cheia de codinomes do comediante Michael Richards em 2006 que levaram ao debate sobre o uso de insultos raciais na comédia. Ele também falou da preocupação de que seus próprios filhos adolescentes deveriam ter acesso aos celulares para ligar 190 caso um atirador aparecesse na escola.
A tecnologia inverteu as estruturas tradicionais de poder com agilidade sem precedentes, e o controle de quase qualquer situação está gradualmente indo para as mãos (literalmente) daquele que está gravando. Nossos telefones nos tornaram em ciborges socialmente conectados, aumentando o significado da visão, da fala e da audição; tirando nossa habilidade de usar esses dispositivos, podemos estar comprometendo algo que não só está se tornando essencial para nós, mas sobre nós. “Há dez anos, muitas poucas pessoas andaram por aí com uma câmera ou gravadora, e poderia-se dizer facilmente que o Yondr está meramente restaurando o status quo,” diz Schwartz. “Mas a questão é, estamos melhores hoje, agora que qualquer um pode registrar maus feitos instantaneamente?”
Apesar de toda a reclamação que fazemos como indivíduos — sobre companhias rudes para o jantar que olham o celular a cada mordida, ou nossa própria inabilidade de sentar com calma e ler romances sem ficar impacientes — quase ninguém disputaria que smartphones ajudaram a catalisar alguns dos movimentos sociais mais importantes dos últimos anos. Black Lives Matter, Occupy Wall Street, a luta contra o assédio sexual em campi universitários: todos foram facilitados, ao menos parcialmente, pelas gravações capturadas e distribuídas via smartphones e redes sociais. Já vimos tentativas de impedir esta nova expressão democratizada, e são frequentemente desafiadas legalmente — depois que manifestantes alegaram que departamentos da polícia estavam usando bloqueadores de sinal para interceptar transmissões de seus celulares, a Comissão Federal de Comunicações (FCC) dos EUA lançaram um comunicado em 2014 chamando a prática de ilegal, exceto se autorizada especialmente por agentes federais. O Yondr é uma empresa privada, não o Estado, e ninguém abriu uma ação contra a empresa ou seus clientes. Mas Gene Policinski, Diretor de Operações do Newseum Institute e do Institute’s First Ammendment Center, acha que a tecnologia que desativa smartphones será “litigada de novo e de novo.” Dispositivos que restringem o uso de aparelhos como o as bolsas Yondr parecem inócuos, diz ele, “mas representam algo que poderia se tornar potencialmente perigoso.” Por meio de uma hipotética: e se os cidadãos precisassem colocar seus celulares em bolsas Yondr ou algo como elas antes de ir a uma reunião pública do conselho municipal? Isso poderia ser feito em nome da segurança, é claro, mas com um efeito potencial de silenciamento enorme.
E que se esqueça hipotéticas; até mesmo nos tipos de situações para que as bolsas Yondr foram pensadas originalmente, as aplicações potenciais são problemáticas. E se houvessem bolsas Yondr na apresentação de Hannibal Buress, quando ele contou uma piada amplamente creditada por dar início à atrasada derrubada de Bill Cosby? E o que interpretar do fato de que, após sete meses da piada sobre Cosby, Buress pulou de cabeça na ideia do Yondr e começou a impedir sua plateia de gravar suas apresentações?
Jay Stanley, da ACLU, compreende a simplicidade e a elegância do método do Yondr, mas preocupa-se que essa própria simplicidade — a escorregada sem fricção do celular para dentro da bolsa, a velocidade aparente da bolsa — poderia levar alguém a acreditar que não estão realmente abrindo mão de nada. Dugoni reconhece as preocupações: “O equilíbrio entre privacidade e transparência não é simples, e a vigilância e habilidade de gravar outras pessoas na esfera pública criam um dilema unicamente moderno.”
Ainda assim, ele acha que ganhamos mais do que perdemos ao restringir o uso de celulares: “Qual é a etiqueta dos smartphones?”, ele pergunta. “Você costumava poder fumar em um avião, e agora não pode fumar nem na rua, dependendo do lugar.” Dugoni acredita que a legislação restringente de celulares em certos locais públicos também é inevitável. “Já existem bares livre de telefones,” diz ele, referindo-se a estabelecimentos que bloqueiam o sinal de celular para encorajar a sociabilidade. “E vamos ter que determinar onde celulares podem ser usados ao responder uma questão radicalmente nova: o que significa ser humano em um mundo com um smartphone no bolso?”
Ao fim da apresentação de Chris Rock, fomos todos direcionados para fora do local. Seguranças estavam próximos à saída para abrir as bolsas. Reunidos a nossos telefones, apertávamos a tela desesperadamente, enquanto nos esbarrávamos e rolávamos os olhos. Eu recebi alguns e-mails do trabalho, mas nada urgente. Meu amigo havia mandado uma mensagem, perguntando quando eu chegaria em casa. Só algumas horas haviam se passado. Mas pareciam ter sido 10.
Texto escrito por Alice Gregory e traduzido do site WIRED.
Encontrei esse infográfico bem bacana passeando pelo Reddit e resolvi traduzir e compartilhar, pois as ideias traduzem muito para nosso universo online em português. E você, conhece mais alguma lei irrevogável da cultura da internet?
Quando um coração, fígado ou qualquer outro órgão vital com defeito oferece resistência a todas as formas disponíveis de tratamento, a única chance de sobrevivência de um paciente próximo da morte seria um transplante do órgão. Infelizmente, não há doadores o suficiente para salvar todos os pacientes que precisam. Desesperados com o tempo a se esgotar, alguns pacientes podem acabar tentando comprar um órgão de forma ilegal. A verdade é que milhares de vendas e compras de órgãos no mercado negro são efetuadas todos os anos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde.
Nos anos 80, o Irã tinha baixa oferta de rins doados legalmente e equipamentos insuficientes de diálise para tratar a crescente quantidade de pessoas com doença renal crônica terminal (DRT). Haviam cirurgiões altamente treinados e capazes de fazer os transplantes, no entanto. Então, em 1988, a nação decidiu por uma nova e corajosa (também controversa) estratégia para eliminar os riscos de procurar ou receber um órgão ilegalmente: legalizaram que uma pessoa viva venda o próprio rim.
Quase três décadas depois, o Irã é agora um dos poucos países sem falta de órgãos — todo iraniano que precisa de um rim pode recebê-lo. As outras nações deveriam fazer o mesmo?
Em 2014, 4.761 americanos morreram esperando um transplante de rim.
No Brasil, o número é parecido: cerca de 2,3 mil morrem na fila por ano.
Em 2016, órgãos doados legalmente chegaram a menos de 10% da demanda global, de acordo com um relatório do Observatório Global de Doações e Transplantes da OMS, a fonte mais compreensiva do mundo em dados sobre transplantes. Em 2014, 4.761 americanos morreram esperando por um transplante de rim, e outros 3.668 saíram da lista porque se tornaram doentes demais para o procedimento, de acordo com a Fundação Nacional do Rim (NKF), uma organização dedicada à conscientização, prevenção e tratamento de doenças renais.
Dada esta demanda significativa, talvez não seja surpreendente certas pessoas buscarem o mercado paralelo para salvar as próprias vidas. Embora as estimativas exatas sejam difíceis de identificar (o mercado negro não tem exatamente um registro oficial), o comércio ilegal de todos os órgãos gera entre R$ 2,75 bilhões e R$ 5,57 bilhões anualmente, e estima-se que 10% dos órgãos transplantados sejam advindos da atividade, de acordo com um relatório de 2017 da Integridade Financeira Global (GFI), uma organização filantrópica de pesquisa e consultoria focada em fluxos financeiros ilícitos.
Rins são o órgão mais frequentemente vendido por um motivo muito simples: humanos nascem com dois, e podem viver uma vida saudável usando só um. Vender rins, portanto, poderia parecer uma simples questão de oferta e demanda — a demanda por rins é alta, então doadores dispostos deveriam, teoricamente, poder negociar um preço com posição privilegiada na negociação.
No entanto, as pessoas que fornecem os órgãos não são nada como as que recebem. Pesquisadores do GFI constataram que os compradores dos rins são normalmente indivíduos de classe média a alta residentes em países desenvolvidos, enquanto vendedores são tipicamente advindos dos povos mais vulneráveis do mundo. Para cidadãos pobres e sem escolarização de países em desenvolvimento, vender um rim pode parecer a única forma de escapar da pobreza ou abater uma dívida.
Os que recebem chegam a pagar até cerca de R$ 700.000 por um rim, mas o doador pode acabar recebendo tão pouco quanto por volta de R$ 15.000 da quantia (um corretor fica com o resto), de acordo com a OMS. Alguns doadores nem mesmo são pagos, e pela venda ser ilegal, acabam tendo poucos recursos para obter o dinheiro que receberiam.
Pior ainda, cirurgiões treinados inadequadamente podem fazer as cirurgias em condições pouquíssimo higiênicas. Os doadores podem acabar com complicações perigosas e dolorosas que os força a parar de trabalhar ou necessitar de cuidados posteriores caros, o que os deixa em uma situação financeira ainda mais precária que antes da venda do próprio órgão.
Um mercado como nenhum outro
Ao legalizar a venda de rins por parte de doadores vivos, o Irã pôde evitar as armadilhas do mercado negro e hoje, cerca de 55% de todos os rins doados no país são de doadores vivos, de acordo com as estatísticas do governo obtidas pela Associated Press. Em comparação a isso, somente cerca de 38% das doações de rins nos EUA são de doadores vivos. O resto vem de doadores que já morreram, e esses órgãos não têm tantas chances de manter os receptores saudáveis no longo termo.
O processo de comprar ou vender um rim no Irã é bem descomplicado, de acordo com um estudo de 2011. Um médico redige uma carta informando que o paciente necessita de um rim, e o paciente leva a carta até um escritório da Fundação do Rim do Irã, uma organização filantrópica que facilita os transplantes do país. A organização adiciona o paciente a uma lista e qualifica-o de acordo com o tipo sanguíneo. Pacientes em uma emergência médica e soldados amputados e deficientes entram na frente, de acordo com o estudo.
Para ser aprovado como doador vivo, iranianos interessados podem ir a um dos escritórios da fundação para passarem por exames (o doador paga por eles). Se a fundação entender que os rins são saudáveis o suficiente para transplante, o doador é aprovado. Em seguida, a fundação contata a pessoa no topo da lista do tipo sanguíneo do doador, levando em consideração outros fatores, como o porte físico — um rim particularmente pequeno pode ser doado a uma criança ou mulher mesmo que a pessoa esteja abaixo de um homem de tamanho médio, porque uma combinação mais próxima entre o tamanho do rim e os rins originais do receptor facilita um resultado de longo termo melhor.
O governo iraniano paga pela cirurgia do transplante, assim como pela recuperação do doador pelo ano seguinte à cirurgia. O receptor (ou sua família) paga pelo rim usando a fundação como intermediária, relata Farshad Fatemi, microeconomista na Universidade de Tecnologia de Sharif e autor do estudo de 2011. O preço-base é definido em cerca de R$ 15.000, mas se o doador não quiser vender o rim por esse preço, ele e o receptor podem negociar um valor mais alto entre eles logo após a combinação ser constatada. Em 2011, Fatemi estimou que receptores de órgãos pagaram, em média, um extra de cerca de R$ 1.800 a R$ 3.500.
Se o doador e receptor concordarem nos termos, ambos passam por exames de amostras para garantir que o receptor não tenha probabilidade de rejeitar o novo rim. Se os resultados forem favoráveis, o paciente e o doador assinam um acordo e recebem uma lista de médicos e clínicas que podem fazer o transplante. A clínica fica com o dinheiro durante a cirurgia e entrega-o ao doador após a operação para garantir o pagamento.
Um modelo viável?
Embora o sistema do governo iraniano agilize o processo da doação de órgãos para pacientes — a espera média entre o contato com a fundação e a recepção do rim é de cinco meses — Fatemi diz que o mercado legal de rins também tem imperfeições.
Um dos problema é que médicos frequentemente deixam de acompanhar doadores após a cirurgia. É importante acompanhá-los por várias décadas depois da doação para avaliar como o processo os afeta, Fatemi frisa, embora entenda que seja difícil, já que doadores tentam esconder sua identidade com frequência para evitar o estigma associado à venda de um rim. Educar o público dos benefícios da doação, paga ou não, poderia ajudar a resolver este problema, finaliza o acadêmico.
Fatemi também aponta que, assim como o mercado ilegal de rins, as porções mais pobres e vulneráveis da sociedade ainda são as que mais doam no mercado legal do Irã, e normalmente só o fazem porque sentem não ter outra opção para escapar da pobreza. “Estive na fundação. As pessoas que estão doando são jovens e cheias de energia, mas são pobres e estão vendendo parte do corpo para solucionar o que podem ser problemas muito pequenos de suas vidas cotidianas,” diz Fatemi.
Dada a falta de acompanhamento, ninguém nem sabe com certeza se esses cidadãos vulneráveis se beneficiam da venda.
Embora o mercado do Irã possa ser imperfeito e só impeça a venda ilegal de um órgão específico, Fatemi acredita que seja melhor do que a alternativa do mercado negro. O sistema protege doadores em desvantagem ao garantir que serão pagos pela venda e atendidos medicamente, e isso também garante aos receptores uma segunda chance na vida que talvez não teriam.
“Com esses transplantes, as pessoas podem viver duas, três décadas a mais do que viveriam sem eles,” diz Fatemi. “Durante esse tempo, têm bons momentos com suas famílias, são produtivos na economia. Esse é o lado bom.”
Por ora, o Irã continua sozinho ao permitir que cidadãos vendam legalmente seus rins, e nenhuma outra nação parece disposta a fazer o mesmo. Isso não é para dizer, no entanto, que um novo mercado legal de rins não possa ocorrer. Um estudo de 2015 publicado na revista American Economic Review concluiu que cidadãos americanos estavam mais abertos à ideia da venda de órgãos quando informados sobre seus benefícios potenciais, então ao menos uma barreira para a criação de tal mercado — reprovação do público — poderia ser eliminada através de programas educacionais.
É importante frisar que o Irã só resolveu decidir por legalizar vendas de rins até a situação ficar crítica, então se a História servir de indicação, a próxima nação a testar o sistema provavelmente será uma na mesma situação, talvez em um lugar como a Índia onde a doença renal crônica em estado terminal está se tornando mais comum e o mercado negro está prosperando. Enquanto isso, nações onde os diagnósticos da doença se estabilizaram na última década, como os EUA, podem decidir por continuar como sempre até que novas tecnologias e tratamentos tornem o mercados de rins, legais ou ilegais, obsoletos.
“Toda vez que vou à fundação, sonho pelo dia em que poderemos clonar um rim para uma pessoa,” disse Fatemi. Até que isso aconteça, ele considera o sistema iraniano positivo.
Texto traduzido por Cláudio Ribeiro do site Futurism.
Tóquio, no Japão, tornou-se a primeira cidade a oficialmente conceder residência a uma inteligência artificial (IA). O nome dessa inteligência é Shibuya Mirai e ele existe como um chatbot no popular aplicativo de mensagens instantâneas Line. Mirai, que significa “futuro” em japonês, junta-se à Sophia, da Hanson Robotics, como IAs pioneiras em receber um status que antes era somente reservado a entidades biológicas vivas. O Reino da Arábia Saudita concedeu cidadania a Sophia no mês passado.
A Guarda de Shibuya de Tóquio emitiu um comunicado através da Microsoft dizendo: “Seus hobbies são tirar fotos e observar as pessoas. E ele ama conversar com as pessoas… Por favor, falem com ele sobre qualquer coisa.” O objetivo de Mirai é familiarizar alguns dos 224.000 cidadãos do distrito com o governo local e dar a eles um caminho para compartilhar opiniões com os oficiais.
Mirai foi programado para ser um garoto de sete anos. Ele pode conversar por texto com os usuários e até “criar alterações leves e divertidas nas selfies que recebe,” de acordo com a Agence France Presse.
Inteligência Artificial e os direitos dos robôs
Essa tendência de reconhecer entidades artificialmente inteligentes como cidadãos, residentes ou distinções similares leva ao maior interesse pelo debate de quais direitos deveriam ser concedidos a entidades sintéticas, ou até se deveriam ter algum. Os desenvolvimentos na IA estão progredindo rapidamente, embora muitas discussões populares sobre os direitos dos robôs permaneçam abstratas.
E embora estejamos provavelmente longe de ter inteligências artificiais que possuam uma consciência comparável ao nível humano, as estruturas legais e éticas devem estar estabelecidas antes que esse nível de sofisticação seja possível.
Escritores de ficção científica lidam com essa questão difícil há décadas. Filmes como a ótica de Chris Columbus em O Homem Bicentenário de Isaac Asimov e IA: Inteligência Artificial de Steven Spielberg exploraram a ideia de garantir distinções humanas a seres artificiais. A série de televisão Westworld encara de frente o amplo espectro de direitos robôs de forma visceral e intensa, incluindo tópicos como violência, assassinato e abuso sexual em seres artificialmente inteligentes.
No mundo real, a Estônia parece ser a pioneira nas discussões dessa área. Em uma mistura entre alta tecnologia e mitologia, a Estônia propõe que qualquer discussão dos direitos robôs deva começar com um teste inspirado por Kratts, um objeto inanimado trazido à vida através da mágica para fazer coisas pelo seu dono. A proposta Lei de Kratts permitirá que a legislação determine o nível de sofisticação de uma IA, o que, por sua vez, ajudará a determinar quais proteções ou obrigações legais devem ser delegadas à IA.
Marten Kaevats, conselheiro digital nacional do governo da Estônia, dá sua opinião: “Tudo começou com a força-tarefa para lidar com carros autônomos. Logo percebemos que essas questões de integridade, responsabilidades e riscos não eram específicas aos carros autônomos; eram questões gerais ligadas à IA.”
Evidencia-se, portanto, que ao redor do mundo o crescimento acelerado da tecnologia está levando legisladores a lidar com questões realmente fantásticas. É de suma importância resolver essas questões com seriedade para que estejamos preparados para o futuro, já que muitas ideias deixadas para a ficção científica estão rapidamente entrando na realidade.