O Brasil pode um dia ter o espanhol como língua oficial, dado o aumento de imigrantes e seus vizinhos?

Leia minha resposta original no Quora.

Isso nunca irá ocorrer, e é por dois motivos. Posso te dar o primeiro convicto, por gosto da língua portuguesa, mas até poderiam ser invertidos também! Daria no mesmo:

  1. O espanhol e o português são extremamente semelhantes, o que faz com que o fenômeno dos EUA não ocorra aqui. Lá, os imigrantes menos instruídos continuam usando o espanhol e adaptam o inglês em fases, enquanto seus filhos tornam-se plentamente americanos. Aqui, nossos irmãos latinos e deliciosamente sulamericanos aprendem o português em instantes, sem perder seus dialetos;
  2. Nossa forma de receber os imigrantes é diferente. Vemos os nossos vizinhos latinos como irmãos, não colegas de continente, e aceitamos seus sotaques, culturas e cores-de-pele. Não existe a possibilidade de receber um panamenho ou alguém de Trinidad sem simplesmente dá-los “bem-vindo”, ao passo que, nos EUA, seriam simplesmente “wetbacks” e “bienvenidos” (com sarcasmo).

No Brasil, aqueles que falam espanhol aprendem o português em questão de 1~7 meses, arrumam empregos, CPF, identidade nacional e, se forem capazes do que dizem que são, entram no mercado como iguais aos brasileiros — desde que aprendam o idioma, ou possam se fazer entender.

Somos um dos melhores países para imigrantes, pois até o japonês, chinês, indonésio e coreano conseguem adquirir cultura, aceitação e um espaço para se estabelecerem.

Nossas casas são de tijolos sem acabamento, mas nossa cultura é uma das mais receptivas do mundo. Somos exemplo. Por isso, todos aprendem português.

O português poderia ser a língua comum do hemisfério Sul, já que é a língua mais falada nesse hemisfério?

Leia minha resposta original no Quora.

Não se torna a língua comum por questão de sua influência… O português é muito insular. Temos representantes importantes, como o Brasil, Angola e Moçambique, que realmente tornam o português no idioma mais falado do hemisfério, no entanto é muito fechado em si, não influencia países vizinhos e não é usado com maior frequência nas relações entre os países do hemisfério.

Uma língua acaba sendo considerada comum de uma região pré-estabelecida quando é a língua mais utilizada por todos os países nas comunicações entre si, nos negócios e acordos políticos. No caso do francês, por exemplo, já foi uma língua falada por menos gente do que algumas outras línguas europeias, ainda assim continuando a ser a língua mais importante para interações internacionais. Era a língua que todos aprendiam após a nativa, ao invés do inglês.

Se os países lusófonos crescerem economicamente e aumentarem o nível de interações com os países vizinhos, com o tempo o português terá mais destaque e mais pessoas buscarão aprendê-lo, o que fará com que ele fique mais relevante e utilizado em diversas interações entre os países. Por enquanto, não vejo isso acontecendo.

Já que havia muito mais oxigênio na atmosfera milhões de anos atrás, o fogo se comportava de forma diferente?

Leia minha resposta original no Quora.

Sim, o fogo queimava de forma diferente por conta do excesso de oxigênio. Durante o período Carbonífero, cerca de 300 a 350 milhões de anos atrás, os níveis de oxigênio chegaram a até 35%, enquanto hoje temos menos de 20%. Isso permitia que incêndios começassem em lugares que não costumamos esperar (lugares com alta umidade, e durante chuvas fortes). Hoje, encontramos carvão fossilizado em sedimentos depositados em regiões pantanosas, o que nos permite crer na ideia de que incêndios começavam muito mais facilmente durante esse período. Com isso, você pode se perguntar: como as plantas sobreviviam ao constante risco de incêndio?

Adaptando-se, graças à evolução. Por exemplo, as plantas desse período tinham raízes muito mais profundas do que suas parentes de hoje em dia, e as folhas das árvores ficavam em pontos mais altos, o que ajudava a evitar que pegassem fogo durante um incêndio de arbustos.

O motivo pelo qual tanto carvão (grande parte sendo fossilizada) permanece desde esse período é graças a dois fatores: primeiro, o material estrutural das plantas, a lignina, não queima tão rapidamente — normalmente retira-se a lignina do papel, motivo pelo qual ele queima tão facilmente — ele tende a crepitar (como troncos em uma fogueira), então os incêndios deixavam grande quantidade de carvão para trás, e não seus subprodutos habituais (dióxido de carbono, monóxido de carbono — quando queima mais lentamente — e água).

Segundo, a lignina é difícil de digerir. Até mesmo fungos e bactérias de hoje em dia têm dificuldade para digeri-la. 300 milhões de anos atrás, a taxa de decomposição era praticamente zero.

Em resumo, praticamente todo o carvão de hoje vem de plantas que, milhões de anos atrás, morreram e foram enterradas sem terem nunca passado pelo processo da decomposição.

O que é ainda mais interessante é que, durante esses tempos, insetos gigantescos caminhavam pela terra, e acredita-se que isso tenha relação com metabolismos mais rápidos que a alta porcentagem de oxigênio permitia.