Com o que os Brasileiros mais se surpreendem quando chegam a Portugal?

Leia minha resposta original no Quora.

Algumas das coisas que vêm à cabeça:

  • O grande número de brasileiros trabalhando como garçons nos restaurantes de Lisboa.
  • A quantidade imensa de ciganos e africanos que realmente perseguem e enganam turistas (no Brasil temos muitos vendedores de rua, mas eles sabem respeitar o “não, obrigado!”).
  • A imediata identificação com todos os lugares pelo fato de a arquitetura ser tão próxima à das cidades históricas do Brasil, assim como as famosas pedras portuguesas nas calçadas — temos muito delas também.
  • Pessoas oferecendo maconha e outras drogas livremente em esquinas e becos — brasileiros até se assustam, achando que é armadilha da polícia ou é droga estragada.
  • A quantidade de estrangeiros nas ruas falando várias línguas e conversando em inglês com funcionários — o Brasil tem MUITO menos turistas, só pessoas do Rio de Janeiro realmente estão acostumadas com “gringos” por todos os lados.
  • O trânsito nas horas de pico — brasileiros são levados a acreditar que esse problema já foi solucionado na Europa, mas não é bem assim.
  • O preço baixíssimo do vinho.
  • Portugueses reclamando que recebem mal. É algo que faz os brasileiros ou rirem ou sentirem-se extremamente desconcertados.

Tem mais coisa que eu notei logo de cara quando visitei Lisboa e Cascais, mas não estou me lembrando. Amei Portugal!

Por que alguns portugueses preferem ler um livro em inglês a ler o mesmo livro em português do Brasil?

Leia minha resposta original no Quora.

Pensei um pouquinho aqui, me coloquei no lugar dos portugueses e decidi por duas hipóteses. Creio que alguns portugueses tenham a resposta em uma, e outros em outra. Espero que a 2 seja a mais popular!

Hipótese 1

Preciosismo… Na minha faculdade de Letras lemos vários autores portugueses: Fernando Pessoa, Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco… Todos excelentes e muito bem comentados.

É difícil? Às vezes, especialmente se o autor é de muito tempo atrás. Depois de umas duas páginas, dá para começar a acostumar com as pequenas diferenças e, aliás, começa a ficar até prazeroso ao invés de irritante. É refrescante ver uma variação da língua, observar as sutilezas e os pequenos detalhes diferentes. Até a emoção é descrita de forma diferente.

Não sei por que os portugueses não gostam de fazer a mesma coisa. Só toleram os autores clássicos e consagrados do Brasil. Na minha opinião, eles que saem perdendo.

Hipótese 2

Eu prefiro assistir uma série em inglês no áudio original. Se for um inglês que eu não tenho costume de ouvir, como o irlandês ou o australiano, assisto com legenda em inglês. Se alguém estiver comigo, vejo com legenda em português. O original é sempre melhor.

É a mesma coisa com livros. Ler as palavras do autor, originais, do jeitinho que ele pensou e escreveu, sempre é melhor do que ler uma tradução. Tem tradutores muito bons que conseguem trazer para outra língua algo extremamente próximo das obras originais, mas nunca vai ser a mesma coisa.

Já que os portugueses falam inglês muito bem e aprendem desde cedo, fica fácil para eles acessar a escrita em inglês. E, assim, com certeza vai ser melhor ler o original.

Seria por essa prioridade: Original -> Português de Portugal -> Português do Brasil.

É o que mais faz sentido para mim. Tomara que eu esteja certo 🙂

Agora, se a obra original for, por exemplo, em finlandês, e o português preferir comprar a versão traduzida para o inglês antes de comprar a em português do Brasil, aí a hipótese 1 está correta e dá vontade de mandar aquele emoji virando os olhos para cima… heheh

Como que algumas pessoas, supostamente fluentes em português, não enxergam, por exemplo, num determinado trecho do texto traduzido por elas, a completa falta de nexo?

Leia minha resposta diretamente no Quora.

Porque quando estamos traduzindo, o cérebro se confunde e começa a traçar paralelos na língua que está sendo lida e analisada.

Por exemplo, hoje, durante o almoço, eu queria dizer para a minha vó que uma situação era absurda, inaceitável. Eu estava traduzindo um livro do inglês há pouco tempo antes, então ficou surgindo na minha cabeça a palavra preposterous, que traduz diretamente para absurdo. Mas eu queria uma intensidade maior do que absurdo, e por isso fiquei tentando traduzir o preposterous. Acabei inventando uma palavra: prepóstero. Não existe em português. Minha vó não entendeu.

Isso acontece o tempo todo, com expressões e palavras. A expressão faz sentido pra gente em inglês, ou outro idioma, e quando colocamos no português ela continua fazendo sentido, porque estamos tão envolvidos na língua sendo traduzida que a expressão em português parece ser comum. Só depois de revisarmos, com a cabeça fresca e de volta ao português pleno, que percebemos o tanto que a tradução ficou esquisita.

Isso pode ser mitigado (aí, outra coisa que a gente usa pouco no português, mas que no inglês é usado toda hora e influencia no meu raciocínio!) com a revisão. Aliás, mais de uma revisão. O ideal é que você mesmo(a) revise sua tradução umas duas vezes, e depois passe para outra pessoa revisar de novo. Isso sim configura uma tradução profissional.

Claro que, se você estiver perguntando sobre o Quora em específico, tem outro motivo bem grave: o Google Tradutor. Não sei se tem gente querendo se fazer de mais safa, esperta, ou se querem legitimamente ajudar, ou se acham que ninguém percebe, mas tem muita gente por aqui fingindo que sabe inglês e tentando traduzir texto usando o Google, e isso simplesmente não dá certo.

Estou dizendo que o Google Tradutor é ruim? Não. Que um dia ele não possa ser suficiente para traduções do Quora? Também não, ninguém sabe até onde vai a habilidade da Inteligência Artificial nos próximos anos. Mas, por enquanto, isso não é suficiente, e acaba atrapalhando a todos.

Fico me perguntando se tem gente recebendo nas traduções para fazer essa barbeiragem, ou sei lá. Não entendo a motivação dessa galera.

Mas taí. Nossa cabeça não divide tão bem assim as línguas. Não são como pastas independentes que você acessa em um arquivo. Elas se entrelaçam, e os sinônimos também. Às vezes, sabemos na ponta da língua o termo para uma coisa em um idioma secundário, mas não lembramos como dizê-lo no nosso.

Estou desde 15h da tarde tentando lembrar o nome em português para a moldura em volta da porta, mas tenho completamente claro na minha cabeça que, em inglês, se chama doorframe.