Desistindo da faculdade

Larguei o curso de Engenharia Metalúrgica. Pensei em escrever alguns textões no Facebook depois de um desabafo sobre a ansiedade debilitadora que me sacudiu e acabou me levando a tomar essa decisão, daí pensei em escrever outros tantos textões sobre as várias coisas que passaram pela minha cabeça e pelas opiniões que ouvi nos últimos dias. Achei mais adequado escrever aqui, sozinho, porque afinal de contas textão no Facebook sobre a faculdade é algo mais reservado a formaturas.

Acho importante, como processo, uma lista de questões.

Você pode se arrepender depois.

Sim, eu posso. Já estou arrependido de muitas coisas. Uma delas é de ter passado esses dois anos e meio fazendo um curso que não tinha certeza no início e deveria ter entendido que não era para mim muito antes. Teria economizado muito dinheiro e esperança dos meus pais. Aliás, o arrependimento mora aí, em não só usar de suas ajudas e recursos por tanto tempo sem retorno como também em ter mais arrependimento de estar desistindo por conta da falta de apoio financeiro do que por estar desistindo da Engenharia em si. Que tipo de pessoa eu sou?

Não tome decisões precipitadas.

Parece, mesmo, à superfície. Em uma semana eu estava “bem”, na outra já estava conversando com meus pais, abandonando as aulas e informando os amigos próximos. Bipolaridade? Nem de longe. No início do ano, quem quisesse ouvir teria percebido que as coisas já não estavam mil maravilhas. Esforços em vão, falta de interesse, auto-sabotagem, insegurança e um ambiente absolutamente inóspito. Fiquei entusiasmado com a vida e com o esforço só quando estava afastado da real obrigação de desempenhar. Talvez também com os exercícios regulares na academia. O entusiasmo se esgotou em pouco tempo e deu espaço aos velhos amigos depressão, estresse, frustração, desgaste. Vontade de beber o tempo todo para anestesiar. Foi ótimo. Foi horrível. Finalmente a decisão precipitada foi tomada!

É pelo lugar ou pelo curso?

É pelos dois. Não suporto mais a falta de sorrisos nas pessoas ao cumprimentar as outras por aqui. Não suporto mais o jogo de popularidade entre as repúblicas. Não suporto mais essa vontade exagerada dos caras de se provarem homens. Não tenho mais paciência – talvez nem idade – para essas bebedeiras sem verdadeiro propósito, a superficialidade das relações e dos eventos, para as brincadeiras de mau gosto. Não vejo com bons olhos a segregação da cidade e entre os alunos. Mas também não estou fascinado pela Metalurgia e nunca tive certeza se me daria bem nesse ambiente de trabalho. Agora nem preciso mais ter.

E vai fazer o quê agora?

A resposta é óbvia. Trabalhar. A solução já não é tão óbvia assim. Estou morrendo de medo, mas pelo menos agora estou com medo das coisas certas. Não do que meus pais vão achar das minhas notas ou meu progresso do curso, não tenho medo de ser maltratado ou expulso de algum lugar por ser gay ou ter comportamentos afins, nem de quanto tempo falta para formar, nem se meus professores me levam a sério ou não, nem medo de ter que pedir mais dinheiro pros meus pais porque acabou. Tenho um medo: não achar um emprego, ou ganhar muito pouco. Meus esforços e buscas e concentração agora devem ser nisso. Sanado este problema, pretendo e espero por uma relativa plenitude. É o que busco há anos e sinto que estou à beira dela.

Não vai sentir saudades?

A primeira vontade de chorar veio hoje, ao ter uma lembrança de uma situação boba com uma amiga que nem tenho há tanto tempo. Quando outras saudades maiores de pessoas mais próximas começarem a bater, acompanhadas de memórias deliciosas distribuidas em centenas de dias incríveis, sei que vou sofrer um bom bocado. Talvez nunca sinta falta de tanta gente tão intensamente como quando não estiver mais aqui. E sim, continua valendo a pena desistir.


Achei que ia render mais conversas comigo mesmo, mas até que não. Já me acalmou novamente fazer pouca reflexão. A triste constatação da vez é saber que daqui para frente só o meu dinheiro é meu, e que não dá para ligar para mamãe dizendo que a mesada terminou e que preciso de mais umas centenas. Se acabar, acabou. Se precisar, não tem. Nada de presentes ou viagens. 24, logo mais 25 anos de idade onde dependerei de mim. Difícil, assustador, porém absolutamente necessário.

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