Venezuela somos todos!

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Fui até o G1 esta manhã para ler as notícias do dia e ver o que tem sido noticiado depois de ver um vídeo que me deixou bastante chateado. Desde o dia 12 de Fevereiro, os jovens universitários da Venezuela têm protestado em várias das principais cidades do país contra as condições de lá. A inflação subiu 56,3% nos últimos 12 meses, a violência está atingindo valores alarmantes (mais de 20.000 mortes no último ano em um país com apenas 30 milhões de habitantes – a título de comparação, o número do Brasil é de mais de 30.000 para 200 milhões) e a polícia corrupta parece não fazer nada para melhorar a situação.

Como alguns devem se lembrar, as eleições pós-morte de Hugo Chávez foram bem suspeitas. O candidato da oposição, Capriles, pediu várias vezes por uma recontagem, mas o atual presidente, Maduro, simplesmente ignorou todos os pedidos. A eleição não foi nada transparente e permitiu que o partido de Chávez continuasse sua liderança indisputada depois de tantos anos em um país regido por uma mesma pessoa.

A partir do blog http://thisisnotlatino.tumblr.com/, comecei a ler mais sobre o que tem acontecido na Venezuela nos últimos quatro dias. Como eu disse no início do post, até agora nada saiu no G1 e nem em nenhum veículo da grande mídia brasileira, fato que me estranha muito. As manifestações turcas, ucranianas e egípcias foram altamente investigadas e comentadas quando atingiram seus ápices, e agora que um de nossos vizinhos, com uma história tão próxima e tanta cultura compartilhada, resolve se rebelar, o rádio está estático?

Opposition supporters demonstrate against Venezuela's President Nicolas Maduro's government in Caracas

Enquanto isso tudo acontece por lá, não ouvimos nada. Todas as notícias relacionadas a manifestações na mídia brasileira são sobre o cinegrafista da Band que morreu. Até hoje, o nome de Santiago está sendo reciclado para fazer uma porção reacionária do Brasil continuar reacionária. Novamente, precisamos usar a internet para nos inteirarmos do que tem realmente acontecido e onde está a discussão brasileira.

Na Venezuela, nossos hermanos perderam um canal inteiro simplesmente porque resolveram reportar as manifestações. Todos os outros canais são controlados pelo governo e o próprio Twitter, arma principal usada pelos manifestantes, teve porções bloqueadas, onde imagens não aparecem mais e tweets enviados com algumas palavras não são enviados. Conseguem imaginar uma censura ainda maior do que da mídia manipuladora que temos aqui? Eu me sentiria completamente preso. Agora dá para pensar mais em qual deve ter sido a sensação dos egípcios quando perderam TODA a internet.

As coisas não param por aí. Vou traduzir a última que saiu no ThisisnotLatino:

“Nicolás Yanes, estudante de 20 anos da Universidade Central da Venezuela, fala sobre sua experiência ao tomar um tiro durante um protesto contra o regime de Maduro. 12 de Fevereiro, 2014”

Tentarei resumir suas falas em português (o vídeo está em espanhol). Durante um protesto pacífico, motociclistas armados começaram a atirar nos manifestantes. Yanes tomou um tiro na perna, e ninguém da polícia na região ajudou, nem fizeram nada para impedir os motociclistas de continuarem atirando. Um paramédico que estava de passagem ajudou a estabilizá-lo e, conseguindo andar, Yanes buscou um lugar para se abrigar enquanto o tiroteio continuava.

Uma mulher de um apartamento próximo ajudou a tratá-lo e mantê-lo seguro enquanto as ruas esvaziavam, mas os tiros continuaram. A Guarda Nacional insultou, vaiou o jovem e tentou impedi-lo de deixar o prédio, até que um bombeiro (amigo da mulher que ajudou Yanes) finalmente o encontrou e levou para receber a atenção médica apropriada.

Como muitos outros estudantes, Yanes fala abertamente contra o regime de Maduro, perguntando por que ninguém da Guarda Nacional se mexeu para parar os motociclistas, e se manifestando contra os ataques, assaltos e outras injustiças cometidas diaramente na Venezuela.

Como podem ver, não tá fácil pra ninguém. Logo no início das manifestações venezuelanas, a polícia local já está pegando pesado. Se aqui no Rio de Janeiro nossa polícia já comprou tanques e armas d’água de Natal, mas deixou na garagem por enquanto, lá eles já saíram usando.

Pensem nisso, procurem mais informações e compartilhem tudo que puderem sobre a situação na Venezuela. Sei que virão muitos comentários aqui, no Facebook ou em qualquer lugar sobre como devemos cuidar dos nossos problemas antes de nos preocuparmos com os dos outros. Nossas manifestações minguaram e deram lugar a uma ativa e efeverscente discussão política. Mais manifestações podem estar por vir. Mas isso não nos impede de tentar ajudar mais uma leva de jovens, mais um país que começa a se levantar e lutar por liberdade.

3 mortes somente no dia 12. Policiais dando tiros nos manifestantes e desconhecidos passando de moto fazendo o mesmo. Porradaria insana em jovens que não tem nem um canivete no bolso.
3 mortes somente no dia 12. Policiais dando tiros nos manifestantes e desconhecidos passando de moto fazendo o mesmo. Porradaria insana em jovens que não tem nem um canivete no bolso.

Compartilhem o primeiro vídeo desse post com todas as pessoas que puderem, mesmo que não saibam inglês. Amigos seus saberão e poderão levá-lo ainda mais adiante. Vamos aumentar a voz dos nossos amigos e trazer isso à roda de discussão internacional e latina. Maduro pode tentar calar os jovens do seu próprio país, mas não pode calar o resto do mundo. Lembrem-se que Mubarak tentou calar os egípcios. Ele que saiu calado no final.

Se souberem inglês e quiserem mais informações, podem começar por essa notícia no USAToday. Pelo menos a mídia americana não está explorando a morte de um cinegrafista para fingir que o mundo inteiro voltou à paz.

Venezuela Protests

Egito, Ucrânia, Brasil, Síria, Bulgária, Bahrain, Argélia, Iraque, Jordão, Kuwait, Marrocos, Sudão, Líbia, Iêmen, Grécia, Romênia, Eslovênia, entre outros países do Leste Europeu e do Oriente Médio já se revoltaram entre 2013 e 2014. Agora chegou a vez da Venezuela, e eu tenho certeza que essa lista só tende a aumentar. Ainda tem muito errado para ser corrigido nesse nosso mundo.