A polícia do Colorado está usando um cheiroscópio para achar a maconha nas pessoas

Consegue sentir o perfume doce e pungente da marijuana legalizada no horizonte? Em 6 de Novembro de 2012, votantes do Colorado e Washington passaram o Adendo 63 e Iniciativa 502, respectivamente, que permitiram que a marijuana fosse produzida, vendida e consumida por adultos de 21 anos ou mais, regulada como o álcool e o tabaco.

Fonte: Wikimedia.
Conheça o infame Oficial Nasal.
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Para fumantes da maconha de todos os EUA, estas leis foram uma grande vitória, abrindo caminho para uma ampliação da legalização pelo país. Agora que essa legislação foi revisada e implementada, centenas de dispensários em ambos os países ficaram programados para abrir as portas a partir do dia 1º de Janeiro de 2014. No entanto, um dos novos mandatos em Denver, Colorado, está mirando a inesperada e, ainda assim, mais identificável parte do processo: o grudento, fedorento cheiro da maconha da boa.

Denver é uma das poucas cidades com uma nova lei de odor, cuja qual o advogado da ACLU, Mark Silverstein, considera “tremendamente invasiva, mal-intencionada, desnecessária e inconstitucional”, e que pode acarretar em uma multa dolorosa de US$ 2000 aos violadores fedorentos. O número de reclamações relacionadas ao cheiro da maconha no Colorado dobrou de 7 em 2010 para 16 em 2012, e esse número vai, sem dúvida, subir no ano que vem quando a maconha de loja se tornar amplamente disponível, embora os números atuais de reclamações venham do cheiro arrasador de plantações, não dos próprios fumantes. O conceito regulatório é complicado; como qualificar o cheiro de qualquer área? Encha uma van no meio do verão e, para quem está lá, nem dá para notar o cheiro depois de alguns minutos, mas entre no dia seguinte e vai parecer uma cagada do Wiz Khalifa. Para ajudar na detecção, o departamento policial de Denver arrumou para eles o cômico, high-tech, futurístico “Oficial Nasal”, um cheiroscópio criado para ajudar o usuário a detectar quantidades de odor.

Fonte: Wikimedia
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O dispositivo, também chamado de olfactômetro, parece um telescópio/respirador/megafone alongado para o seu nariz, e embora o site deles esteja cheio de jargões como “proporção de diluição”, “calibragem rastreável” e “mapeamento de odor”, é bem óbvio que isso não é um equipamento particularmente impressionante. É menos um instrumento de medida e mais um tubo com buracos de tamanhos variados e dois filtros na ponta. A premissa é que, ao inalar, uma certa proporção do ar que você recebe será carvão filtrado e limpo, e certa proporção virá direto do ar ao seu redor, que então permitirá ao usuário saber qual o nível detectável do cheiro que sentem. Logo de cara, parece que abandonar o dispositivo e usar o nariz que Deus te deu pode ser uma forma mais fácil de descobrir se tem uma quantidade de odor comprometedora no ar, e já que a medida real ainda é baseada nas capacidades de cheirar do policial com o Oficial Nasal, não há confiabilidade real em que se basear uma multa ou prisão.

Com um preço base de cerca de US$ 1500 para o Oficial Nasal, adicionados a um dos 3 cursos de treinamento oferecidos pelo fabricante, St. Croix Sensory, o departamento está olhando para um custo de US$ 3500 por dispositivo para os oficiais os levarem às ruas e vasculharem por fazendas particularmente fedorentas, sem contar com a inscrição paga ao patenteado Programa Rastreador de Odor (Odor Track’r Program, OTR), que permite ao usuário armazenar detalhes de inspeções de odores junto a coordenadas no GPS para mostrar representações gráficas de intensidade de cheiros no Google Earth. Ainda assim, toda a nova tecnologia parece estar lá para mascarar a pontencial ineficácia e custos altos para o que acaba sendo, no fim das contas, um juízo de valor.

O cheiroscópio do Futurama. Fonte: Comedy Central
O cheiroscópio do desenho Futurama.
Fonte: Comedy Central

Ben Siller, cujo nome é impossível de se ler como outra coisa que não o nome do cara de Zoolander, é um investigador do Departamento de Saúde Ambiental de Denver (DDEH). Ele disse ao Denver Post que a proporção atual de ar sujo-para-limpo digna de ser considerada ilegal é de, ao menos, 1:7, ou seja, ainda detectável quando misturada com sete volumes de ar limpo, embora de acordo com Siller, ninguém tenha sido processado através dessa lei desde 1994. No entanto, em 2012 uma empresa de ração para cachorros foi multada em US$ 500 pelo DDEH por não ventilar sua fábrica fedorenta apropriadamente, e em represália a companhia processou a cidade por tentar tornar uma área industrial em residencial. A multa e o processo foram arquivados, então sim, tecnicamente ninguém foi multado desde 1994, mas não por falta de tentativa. E embora o Oficial Nasal esteja sendo usado em Denver, onde as ressalvas quanto à marijuana foram seriamente tranquilizadas, há partes menos compreensíveis do país onde isso poderia ser usado no lugar de cachorros para identificar cheiros suspeitos falsamente. Posso imaginar estar parado em um cruzamento em Dallas [nota do blogueiro: no Brasil também, nem é difícil de imaginar quando lembramos da polícia que temos], encarando o tubo longo, branco e de plástico, enquanto um policial me diz que o cheiro daquela “erva do diabo” está detectável a uma proporção 1:10.

Em Outubro, o Conselho da Cidade de Denver propôs uma lista de regras a respeito do uso de marijuana, e uma delas poderia potencialmente tornar crime o “ato” de deixar escapar ao público o cheiro da maconha vindo de uma residência, além da cerca de um quintal ou através de dutos de ar. A indignação local quanto à distinção entre fumar em público e fumar abertamente provavelmente significa que as regulações serão reduzidas antes das novas leis entrarem em vigor. A presidente do conselho, Mary Beth Susman, disse ao Denver Post: “É difícil legislar sobre o odor. A potência necessária para registrar algo no Oficial Nasal é algo que temos que rever.” Ela continuou: “Também me pergunto se as pessoas vão se acostumar ao cheiro e se a insatisfação com ele pode mudar com o tempo.”

O texto é do @jules_su, e foi traduzido e adaptado do site Vice.

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